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FAZEDOR DE MERCADO

Por Maurice Bibas

Fotos Divulgação 

Alberto Antonini é um dos grandes nomes da enologia italiana, um mago na arte de fazer grandes vinhos. Esse italiano de 56 anos nasceu na Toscana, mas passeou por Bordeaux, na França, na década de 1970. Formado, iniciou uma trajetória invejável de trabalhos, primeiramente na prestigiosa Frescobaldi, seguido de Cinzano e Argiano, em Montalcino, e finalmente com Antinori, onde seu trabalho explodiu. Antonini vivenciou de perto a chamada Renascença dos vinhos na Toscana, quando foram criados os supertoscanos, em um movimento de rebelião à legislação dos vinhos da região que não admitia uvas não locais nas misturas dos Chianti e de outros vinhos. Foi assim que nasceram os famosos supertoscanos do Antinori (Solaia, Sassicaia e outros) no Bolgheri, um pedaço nobre da região. Em comum, todos levavam em seus cortes uvas de origem francesa, caso da Cabernet Sauvignon.

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Em 1997, ele resolveu optar por carreira solo, iniciando uma consultoria na própria Itália, onde realiza 40% do trabalho, inclusive, em sua casa, a Poggiotondo, objeto de  uma degustação de novos vinhos importados pela World Wine, representante exclusiva no Brasil.

Fora da Itália, expandiu a área de atuação para o Novo Mundo, caso da Argentina, onde presta consultoria para vinícolas como Zucardi, Trapiche, Trivento, Finca Flichmann e Alto las Hormigas, da qual é sócio. No Chile, é consultor da Concha y Toro, Leyda, Viña Bisquertt e Montgras. No Uruguai, atende a Garzon, além de trabalhos nos Estados Unidos e no Canadá. Mas onde ele se mostra mais esperançoso é em um trabalho na Armênia, em uma propriedade com milhares de anos de história vinícola, com uvas autóctones e vinhos de potencial enorme.

Alberto Antonini

Prazeres da Mesa – Como consultor de diversas vinícolas e enorme variedade de terroirs, quais são as informações cruciais que você precisa ter sobre os vinhedos e a vinícola para sugerir uma estratégia para seus clientes?

Alberto Antonini – Em primeiro lugar, procuro falar com o pessoal de campo, pois é fundamental saber como é o solo, o clima e a tradição vinícola da região. Depois de ter as informações do terroir, é necessário verificar como é feita a vinificação. Esse conhecimento permite identificar os cinco pecados a não incorrer para fazer naqueles vinhedos um bom vinho.

Quais são esses pecados?

O primeiro é o estudo do solo, que, quando realizado por especialistas, permite identificar as parcelas que são classificadas como A+, A, B+ etc. Isso é fundamental para saber qual parcela  pode produzir uvas que resultarão em uma bebida de alta qualidade, e não exigir das parcelas piores uvas para fazer vinhos de primeira qualidade. O segundo cuidado é com o manejo dos vinhedos. Aí reside o principal trabalho de campo. O exemplo a ser seguido é o da Borgonha, na França, onde o terroir e também o produtor determinam a qualidade do vinhedo. É fundamental não utilizar herbicidas ou fertilizantes sintéticos que destroem a camada superficial do terreno. O sistema radicular da planta tem de ser profundo porque, em ano chuvoso, as raízes profundas absorvem menos a água que resultaria em frutos com menor concentração. E, em ano seco, as plantas sofrem menos do que se tivessem raízes curtas.

O que tem de ser feito para as plantas terem raízes profundas?

Em primeiro lugar, o solo tem de ter boa drenagem, e para isso tem de parar de usar fertilizantes sintéticos, que agem apenas nas camadas superficiais do solo, e usar fertilizantes naturais que criam uma microbiologia que vai revitalizá-lo e afofá-lo, permitindo a drenagem natural. Em segundo lugar, após a colheita é salutar, retirar uma camada de 50 a 60 centímetros  do solo que foi compactado pelo tráfego dos tratores e dos homens que fizeram a colheita.

Então você é a favor de vinhos orgânicos e biodinâmicos? Nossa experiência em degustações revela que os vinhos orgânicos ou biodinâmicos não necessariamente revelam qualidades organolépticas melhores do que os outros.

Maurice, você tocou em um ponto extremamente importante e naturalmente polêmico. A verdade é que muitas pessoas do chamado “Mundo Natural” são apenas maus agricultores que aderiram ao chamado produto natural ou orgânico pelo apelo do mercado. Um mau agricultor não conseguirá fazer um bom vinho. O motivo pelo qual recomendo as práticas orgânicas ou biodinâmicas é para preservar o solo e manter a identidade e autenticidade dos vinhos da região.

Você é a favor da certificação para esses vinhos?

A certificação, que não é um processo rápido e fácil, é a prova de que a vinícola não usa herbicidas ou fertilizantes sintéticos. Vou dar um exemplo. Você concordaria em pegar um táxi cujo motorista não tem licença para dirigir? Agora vamos ver os três cuidados finais:

Ingredientes

  •  Over maturation (Maturação excessiva das uvas) – Colher as uvas muito maduras resulta em um vinho com muito açúcar, alto grau de álcool, pouca acidez, mas principalmente com aromas e sabores de geleias, que considero enjoativos e saturantes, além de caracterizar vinhos com pouca longevidade.
  • Over extraction (Excesso de extração) – O excesso de extração, com diversas remontagens, resultam em vinhos extremamente concentrados, com taninos excessivos e frequentemente com traços de amargor.
  • Over oak (Excesso de afinamento em barricas) – A passagem por madeira é um processo útil, mas é frequentemente usada em excesso. Nesse ponto, sou radicalmente contra o afinamento em barricas novas de carvalho, prefiro grandes botes de 5.400 litros e de madeira usada.

Então, você não gosta de Bordeaux?

Correto, não sou muito fã de Bordeaux. Considero os Bordeaux vinhos sem personalidade e autenticidade. Prefiro os Borgonha.

Nesses anos todos, qual foi seu maior desafio?

Meu maior desafio é sempre encontrar um mercado para os vinhos que produzo, em vez de fazer vinhos para o mercado. Esta filosofia pode parecer estranha em um mundo no qual o marketing recomenda pesquisas de mercado para saber o que o mercado anseia e assim produzir o que ele quer. Minha função é fazer um bom vinho, autêntico, com identidade e em harmonia com o ambiente. A função de vocês da imprensa é ensinar ao consumidor as vantagens de se ter um vinho autêntico e com personalidade própria, fugindo um pouco da uniformização e da massificação.

Alberto Antonini

Prova dos vinhos Poggiotondo

Vermentino PortoGiotondo 2012

Excelente vinho branco, com aroma complexo, boa acidez e final muito longo.

Poggiotondo Chianti 2015

Elaborado com 85% de Sangiovese, 10% de Canaiolo e 5% de Colorino, é equilibrado, com aromas de média intensidade, revelando notas de frutas e especiarias. Na boca, excelente equilíbrio entre a acidez, o tanino e o álcool.

Chianti riserva 2011 Poggiotondo

Esse vinho não tem a casta Colorino e revela aromas complexos. Na boca, mostra taninos macios e final muito longo.

Vigna delle consiglie 2013 Chianti Riserva

Esse é sem dúvida o vinho top da vinícola. Mostrou muita complexidade e potencial para ter longa vida.

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Prazeres da Mesa

Lançada em 2003, a proposta da revista é saciar o apetite de todos os leitores que gostam de cozinhar, viajar e conhecer os segredos dos bons vinhos e de outras bebidas antecipando tendências e mostrando as novidades desse delicioso universo.

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