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PORTO VINTAGE 2015

Para guardar ou para beber já. De qualquer forma, é mais uma obra de arte da natureza

Em outubro de 2017 estive em Portugal acompanhando uma família muito alegre oriunda do interior de São Paulo. Fizemos o circuito tradicional de Vila Nova de Gaia e do Douro, no tocante aos vinhos. Antes de sentarmos para as tradicionais refeições diárias, fomos às provas de diversos vinhos que cada casa vinícola visitada fazia questão de mostrar. Em algumas delas, tivemos o privilégio de provar “en premier” o Porto Vintage 2015.

Logo nos foi informado que o ano de 2015 não havia sido um ano Clássico de Vintages, ou seja, nem todas as casas produtoras declararam vintage para os seus melhores rubis bem jovens. A natureza no Douro acabou premiando o que conhecemos por micro terroir, pequenas áreas nas quais sol, chuva e condições favoráveis se fizeram presente, gerando assim um vinho bem diferente dos demais elaborados.

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Nas provas que fiz adotei o critério dos mais afortunados consumidores, que são os ingleses e os americanos. No conceito americano fica tudo mais fácil, pois na terra do Trump adoram vintages jovens, com uma espetacular explosão de frutas vermelhas na boca e o álcool ainda bem presente, não muito bem-casado com o vinho. Esse estilo de vinho é fantástico, muito fresco e seu retrogosto é longo e marcante. Já o estilo inglês é de degustá-lo com mais de 20 anos em diante. Aí ocorre uma afinagem do vinho, sua cor por decantação natural vai clareando lentamente e a parte sólida se deposita no fundo da garrafa. O álcool funde-se com mais suavidade ao vinho e o aroma de frutas pujantes vai se tornando mais delicado e exótico, exigindo do degustador uma boa capacidade de percepção de frutas maduras, no estágio de compota ou geleia.

Tudo é uma questão de tempo, por isso é sempre muito bom adquirirmos duas garrafas de cada ano vintage para fazermos essa comparação.

Os mais experientes enólogos do Douro fizeram rasgados comentários a esse Vintage 2015. Luis Sottomayor, Dirk Niepoort, António Agrellos, Charles Symington, David Guimaraens, Carlos Alves, Jorge Pintão, José Maria Soares Franco, David Baverstock, entre outros. Todos são unânimes em afirmar que se trata de uma colheita “que tem muito a apresentar e evoluir em qualidade com o passar do tempo”.

Particularmente quatro vinhos me chamaram atenção, o Vintage Quinta de Murças, da localidade de Covelinhas, que julguei já estar pronto para beber devido a sua boa maciez na boca e um longo retrogosto, bastante persistente. O Graham’s também se portou muito bem, seguido do Vargelas da Taylor’s e o Poças. Todos muito ricos em cor rubi intensa, púrpura marcante, nos aromas uma coleção de destaques de trufa, frutas vermelhas, como a amora e a framboesa e toques de chocolate. Posso afirmar que, nessa grande prova, o Vintage 2015 era um vinho para se mastigar devido ao vigor de aromas e aos sabores encontrados.

Com um desses rótulos, o grupo degustou uma esplendorosa peça de um queijo da Serra da Estrela em seu melhor estado de maturação. Nesse momento, o silêncio se fez à mesa e aquela sensação única de estado de contemplação tomou conta de todos. A conclusão foi uma só, que bom para nós, humanos, quando respeitamos a natureza nesses momentos únicos de nossa vida.

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