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Invasão ibérica

Vinhos de Portugal e Espanha estão em alta no Brasil, com números de importação crescendo e, o melhor, com preços cada vez mais convidativos

 Os goles de Espanha e Portugal continuam ampliando sua presença no universo dos vinhos importados pelo Brasil. Segundo o último relatório divulgado pela International Consulting, empresa especializada no tema, os desembarques lusos no país chegaram em 2016 a cerca de 14 milhões de garrafas, equivalentes a 11,55% do total importado, o que colocou Portugal no terceiro lugar do ranking de importações vínicas, com um crescimento de 2,5% em relação ao ano retrasado (e de cerca de 35% nos últimos cinco anos).Com números menores (6,5 milhões de garrafas, 5,26% do total), por enquanto, a Espanha ficou o ano passado em sexto lugar em volume, mas registrou um crescimento de quase 20% no ano (contabilizando mais de 300% nos últimos dez), o que a deixa praticamente empatada com a França (quinta colocada) e mais perto da Itália (quarto lugar).

Motivos não faltam para sustentar o avanço ibérico. Por um lado, os exemplares peninsulares, nutridos principalmente pelo maravilhoso acervo de uvas nativas que aqueles terrenos abrigam, trazem distintos sabores para o nosso mercado, dominado por vinhos de variedades francesas, os Cabernet, Malbec, Chardonnay, Sauvignon Blanc e companhia, núcleo dos portfólios de Chile e Argentina, nessa ordem, os grandes campeões, donos de duas de cada três garrafas que aportam no país.

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Por outro lado, tanto Espanha como Portugal têm descortinado por aqui nos últimos tempos um respeitável número de vinhos com preços que não passam dos 100 reais e, melhor ainda, custam algumas vezes menos da metade, com um desempenho no copo que compensa o que se paga por eles, caraterística fundamental de um bom vinho e item cada vez mais valorizado pelo consumidor.

É precisamente a eles, aos tintos e brancos dessa deliciosa atropelada ibérica, que está dedicada a coluna. No painel se mesclam exemplares nascidos em áreas vitivinícolas emergentes com outras já consagradas, elaborados tanto por produtores menos conhecidos e cooperativas, como por casas tradicionais e até emblemáticas, que assinam goles divinos (com preços igualmente nas alturas) e agora mostram também seu talento com novos rótulos mais adequados ao bolso dos mortais.

ESPANHA

Finca Enguera (Valencia)

Vinícola familiar fundada em 1999 com base em Enguera, a cerca de 70 quilômetros ao sul da cidade de Valencia, no canto sudeste da Espanha. A casa conta com 160 hectares de vinhas que incluem Tempranillo, claro, entre as tintas. Na ala das brancas, possui 12 hectares de Verdil, uma antiga variedade valenciana que chegou a ser considerada extinta e que, recuperada anos atrás, foi reimplantada no lugar.

Finca Enguera Blanc 2014 – Verdil 100%. O vinho surpreende pela intensidade da fruta. Maçãs e frutas tropicais (abacaxi, carambola) muito maduras aparecem no nariz e na boca, dando forma a um paladar saboroso, bem complementado por uma agradável acidez (avaliação: 89/100, R$ 75,04).

Finca Enguera Tempranillo 2014 – Tempranillo (95%) complementada por Monastrell (ou Mourvèdre). Rubro frutado marcado por framboesas e um leve toque floral. Tem corpo médio e paladar equilibrado e macio, com final dominado pela fruta (89/100, R$ 68,23). À venda na Premium.

Bodegas Borsao (Campo de Borja)

Campo de Borja, na Província de Zaragoza, no centro-norte espanhol, entre Somontano e Rioja, abriga a Bodegas Borsao. Ela foi criada em 2001 mediante a fusão de três cooperativas da região (as de Borja, Tabuenca e Pozuelo). Borsao reúne hoje 375 viticultores e mais de 2.200 hectares de vinhas, 1.500 das quais plantadas com Garnacha, uva que brilha por lá, e dá forma a esses dois tintos.

Borsao Clasico 2015 – Corte de Garnacha (85%) e Tempranillo (10%), com um tempero de Cabernet Sauvignon. Frutas vermelhas de boa intensidade dominam o aroma e o sabor. De corpo médio, tem paladar redondo. Um vinho agradável que se bebe fácil. (88/100, R$ 46).

Borsao Selección 2015 – Tem a mesma proporção de Garnacha e Tempranillo, adicionadas de uma pitada de Syrah. Mostra mais corpo e estrutura que o anterior, mas está igualmente marcado por fruta intensa acompanhada aqui por toques de especiaria que lhe dão complexidade (89/100, R$ 75). World Wine

Bodegas Valderiz (Ribera del Duero)

Outra adega familiar com cerca de 80 hectares de vinhas (entre 15 e 80 anos de idade) distribuídas em 35 diferentes terroirs em volta de Roa, no coração da Ribera del Duero, berço de alguns dos grandes ícones rubros da Espanha. O cultivo dos vinhedos, onde predomina a Tinto Fino (o nome da Tempranillo em Ribera), é feito de forma orgânica. As uvas são vinificadas por fermentação espontânea, com leveduras nativas.

Valdhermoso Jovem 2015 – Puro Tempranillo, elaborado sem contato com madeira. Fruta (framboesa) mesclada com geleias e suave toque de violetas preenchem o paladar. Tem taninos muito finos que lhe dão boa textura e final persistente e prazeroso (90/100, R$ 78). World Wine

PORTUGAL

Quinta do Crasto (Douro)

Da belíssima propriedade da família Roquette, no Cima Corgo, área central do eterno Douro, no norte de Portugal, surgem alguns dos melhores tintos da região (e do país), ícones lusos, como os tremendos Vinha da Ponte e Maria Teresa, e sedutores varietais do tipo do Tinta Roriz ou Touriga Nacional. Aportou recentemente ao Brasil uma nova linha de vinhos com a assinatura do Crasto: os Etiqueta Negra, importados por uma rede de supermercados.

Etiqueta Negra Branco 2015 – Combina na fórmula uvas Rabigato, Córadega do Larinho e Viosinho. Frutas tropicais, como mamão maduro, manga e banana aparecem junto a toques florais (laranjeira, rosas) neste vinho aromático de corpo médio.

Etiqueta Negra Tinto 2014 – Outro trio de cepas típicas de terras lusas dá vida a esse rubro: Tinta Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional. Ele é um vinho de bom corpo, com taninos firmes que lhe conferem boa estrutura e paladar marcado por ameixas pretas e cerejas que aparecem também no final (ambos 88/100, R$ 47,50). Pão de Açúcar, paodeacucar.com

Casal da Coelheira (Tejo)

Os vinhos da Coelheira, que têm sua adega e 65 hectares de vinhas na margem esquerda do Rio Tejo, cerca de 100 quilômetros ao norte de Lisboa, já tinham impressionado bem no ano passado, na apresentação de vinhos da região realizada durante a Caravana dos Vinhos do Tejo, em São Paulo. Voltam a merecer menção agora, provados na edição 2017 do evento. O enólogo (e proprietário) da casa, Nuno Falcão Rodrigues, continua com uma consistente linha de vinhos. Um branco foi o destaque.

Casal da Coelheira Branco 2016 – Corte de uvas Verdelho (45%), Fernão Pires (35%) e Arino, não teve contato com madeira. Tons de cascas cítricas e frutas brancas se mesclam no nariz e na boca. De corpo médio, o vinho tem paladar denso e vivaz, com boa acidez e final frutado persistente (90/100, R$ 72). Viníssimo, vinissimostore.com.br

Casa da Passarella (Dão)

Secular propriedade do Dão (centro norte da terrinha), tem vinhas (60 hectares) ao pé da Serra da Estrela, no canto leste da região. O enólogo Paulo Nunes (assessor de outras importantes vinícolas lusas, como a Casa de Saima, na Bairrada, ou a Quinta da Bica, também do Dão) é responsável pelos goles da Passarella desde 2007. Ele apresentou seus vinhos pouco tempo atrás em São Paulo. Dois deles mostraram um brilho especial.

A Descoberta Colheita Branco 2015 – A Encruzado, uva branca emblemática do Dão, é a base do vinho (60%), complementada por partes iguais de Malvasia Fina e Verdelho. Uma pequena parte do vinho (5%) estagiou em carvalho francês. Fortes pinceladas tostado-minerais temperam um núcleo de frutas brancas e cítricas. Vinho vivaz, de paladar denso e saboroso do início ao fim (91/100, R$ 90,60).

A Descoberta Colheita Tinto 2013 – Touriga Nacional (50%), outra fantástica cepa lusa, que para muitos é originária da região, Alfrocheiro, Tinta Roriz e Jaen alicerçam este rubro com claro perfil do Dão, intenso e elegante, rico na fruta (cerejas, ameixas pretas maduras), sedoso e complexo em boca, longo no final. (92/100, R$ 90,60). Premium

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