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Desembarques italianos

As regiões tradicionais da Itália continuam fazendo grandes vinhos, mas a parte sul do país entra definitivamente na produção de bebida de qualidade. Boas amostras aportaram por aqui

Campeã mundial na produção de vinhos (com cerca de 5 bilhões de litros elaborados por ano) e, mais importante ainda, berço de alguns dos ícones vitivinícolas do planeta, como os Barolo, os Barbaresco e uns tremendos rubros da Toscana, para mencionar apenas alguns, a Itália e seus vinhos voltaram a ganhar espaço nas últimas semanas trazidos à tona pelo lançamento de uma bela série de novidades.

É precisamente a eles, aos tintos e brancos que aportaram nesses últimos desembarques italianos, que está dedicada esta coluna. A maior parte dos recém-chegados é oriunda de regiões emergentes, terras do sul do país, que buscam um lugar ao sol tentando seduzir o consumidor com bons produtos a preços convidativos, como a Sicília ou a Puglia, a província que ocupa o salto do País da Bota, de história mais recente no mundo dos vinhos finos. Mas para quem prefere goles de áreas já consagradas, há também no painel boas pedidas nascidas no extremo norte, no Vêneto e no Piemonte, berço do trio a seguir.

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Piemonte

Antica Casa Ricossa
A empresa faz jus à palavra “antica” (antiga, em italiano) em seu nome. Nasceu no fim do século XIX como uma destilaria. Com o passar do tempo, foi se aproximando cada vez mais da origem da matéria-prima de seus produtos: o vinho. A Ricossa tem na atualidade um catálogo que conta, claro, com Barolo e Barbaresco à base da grande estrela do lugar, a uva Nebbiolo, mas a adega faz bonito também com outra variedade piemontesa muito interessante: a Barbera, que deu vida a esse tinto.

 Ricossa Barbera d’Asti 2015 – Elaborado sem contato com madeira. Frutas vermelhas, como framboesa e groselha, dominam aroma e sabor, dando forma a um paladar redondo, sem arestas, com bom corpo e uma acidez bem presente que lhe dá um perfil gastronômico. Ideal para escoltar uma boa carne assada (avaliação: 89 pontos em 100, R$ 79). À venda na Grand Cru; grandcru.com.br

Vêneto

Campagnola
Outra vinícola com mais de um século de existência, comandada pela quinta geração da família fundadora. Os Campagnola têm vinhedos próprios em importantes cantos vênetos, como no Lago de Garda ou a Valpolicella, mas vinificam também uvas de mais de 50 viticultores associados. Na primeira leva da casa, aportaram um par de Amarone, grandes rubros da região, mas os destaques ficaram nos primeiros degraus do portfólio, com um Soave, branco típico daquelas bandas e um tinto da Valpolicella.

Campagnola Soave Classico 2016 – Corte de uvas Garganega (70%) e Trebbiano. Tem aroma atraente que mescla frutas cítricas com toques de abacaxi verde. A fruta aparece também dominando o sabor e preenchendo um paladar vivaz e untuoso, com final agradável (88/100, R$ 75,40).

Giuseppe Campagnola Valpolicella Classico Le Bine 2015 – Entram em sua fórmula três variedades: Corvina e Corvinone (70%) e Rondinella. Cerca de 15% das uvas são desidratadas lentamente por 60 dias e adicionadas ao vinho para uma segunda fermentação com o objetivo de dar à bebida mais cor e complexidade. Estagiou durante dez meses em tonéis de carvalho. Concentrado, com bom corpo, combina frutas frescas, toques de geleia e tons balsâmicos no nariz e na boca. Denso e macio, tem final prolongado, no qual aparecem frutas e especiarias (90/100, R$ 118,79). Ambos na Mistral; mistral.com.br

Puglia

Colle Petrito
Depois de dois empreendimentos seculares, uma vinícola jovem. A Colle Petrito foi fundada no ano 2000 por três amigos que quiseram unir suas produções de vinho para levá-las à escala comercial. A vinícola tem sua base na Murgia, um planalto no norte da província, vizinho à cidade de Bari. A primeira bateria da casa a aportar no Brasil (e que inaugura a ala italiana de uma importadora) está composta de goles de uvas clássicas do lugar, como a Nero de Troia e a Aglianico. Dois tintos dessas variedades, brilharam de forma peculiar.

Colle Petrito Nero di Troia 2016 – Vinificado em tanques de inox. Mostra aroma atraente, rico em frutas vermelhas e ameixas maduras, temperadas por pinceladas de especiarias. Equilibrado e igualmente frutado em boca, tem acidez no ponto, corpo médio, textura sedosa e bom final (89/100, R$ 69).

Colle Petrito Aglianico 2013 – Teve estágio em barricas de carvalho. Cerejas e suaves toques balsâmicos, de cânfora e canela, marcam esse rubro encorpado e de perfil pouco habitual, um tanto exótico, mas complexo e bem-feito. Persistente, está embrulhado em taninos finos, que lhe conferem boa textura (91/100, R$ 103,90). Adega Alentejana; alentejana.com.br

 Terra Rossa
A Terra Rossa é marca própria de outra importadora paulistana. A estreia dos novos rótulos está composta por um sexteto de tintos e brancos elaborados pela Vinosia, uma empresa que teve sua origem na Campania e ampliou a área de produção incorporando em seu repertório a vizinha Puglia. Menção para dois vinhos da linha básica que chamaram especialmente atenção.

A. Mare Bianco di Puglia 2016 – Duas cepas entram na fórmula desse branco: Malvasia (60%) e Chardonnay. Pêssego e peras maduras se fundem em um paladar de boa densidade sustentado por uma bela acidez, que brinda a esse vinho prazeroso bom nervo e vivacidade. Tiro e queda para peixes e frutos do mar grelhados (88/100, R$ 69).

A. Mare Primitivo di Puglia 2016 – Um Primitivo (uva tinta de destaque da Puglia), de corpo médio, longe do estilo pesadão habitual em rubros da variedade. Ameixas pretas maduras, frutas confeitadas e geleias marcam o sabor. Equilibrado no álcool e redondo em boca, ele é uma boa pedida para escoltar pratos de carne ou massas com molhos mais vigorosos (89/100, R$ 69). World Wine; worldwine.com.br

Sicília

Cantine Birgi
A Birgi está sediada em Marsala, na província de Trapani, no extremo noroeste da maior ilha do Mediterrâneo. Tem mais de 50 anos de existência, cerca de 1.000 viticultores associados e processa por ano em torno de 30 milhões de quilos de uvas cultivadas por eles. Os vinhos da cantina (parte também do novo departamento italiano da Adega Alentejana) são outra amostra clara de que as cooperativas, às vezes subvalorizadas, são com frequência fonte de vinhos finos muito palatáveis que podem ser vendidos a preços idem. Como estes três.

Trinacria Rosso 2016 – Um blend de cepas nativas não declarado pela vinícola. Seja qual for sua identidade, desde o seu (injusto) anonimato, as uvas deram a esse tinto uma personalidade de deliciosa simplicidade. Leve, tem boa acidez e está marcado por frutas vermelhas e tons terrosos. Um vinho macio e saboroso, que se bebe fácil (87/100, R$ 39).

Tria Insolia 2016 – A Insolia é uma das importantes variedades brancas sicilianas. Aqui, modelou um vinho untuoso marcado por frutas brancas e temperado com tons tostado-minerais que dão complexidade a seu sabor, longo e atraente (89/100, R$ 54).

Tria Nero d’Avola 2016 – 100% Nero d’Avola, grande estrela rubra da ilha. Fruta (cereja) junto a pinceladas terrosas e de certo viés mineral e de torrefação se mesclam no aroma e no sabor desse tinto de bom corpo; prazeroso do início ao fim (89/100, R$ 54); alentejana.com.br

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