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Biodiversidade em risco

Por Sara Campos

Mudanças climáticas no planeta afetam cada vez mais os biomas brasileiros e ameaçam o sustento das comunidades extrativistas

Na última década, o tema mudanças climáticas deixou de ser tachado como pauta discutida exclusivamente por movimentos ambientalistas. As consequências podem afetar o acesso aos alimentos, principalmente aos frutos nativos. O último relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC), das Nações Unidas, aponta que até o final do século as temperaturas ao redor do globo poderão registrar um aumento que deve variar entre 1,4 ºC e 5,8 ºC. Outro dado alarmante, divulgado pela Organização Mundial de Meteorologia, afirma que o planeta viveu seus dez anos mais quentes de 1990 a 2000.

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As oscilações climáticas cada vez mais evidenciadas pela mídia tornaram-se um verdadeiro grito de socorro dos biomas brasileiros. De norte a sul do Brasil, os impactos climáticos transformaram-se em mais um desafio para os agricultores, em especial aos dedicados à agricultura familiar.

Entre os obstáculos lançados diante desse problema que parece agravar-se a cada segundo, os extrativistas – em grande número representados pelas comunidades tradicionais, como os indígenas Sateré-Mawé, no Amazonas, e o Quilombo Kaonge, no Recôncavo Baiano, ligadas ao movimento Slow Food – percebem grande alteração de volume produtivo de riquezas alimentares de nossa biodiversidade. Caso do butiá de Santa Catarina, também conhecido como coquinho azedo – que apresentou na última safra diferentes características. “As mudanças no clima afetam a produção e a qualidade do fruto. Quando as chuvas são bem distribuídas, extraímos um butiá de excelente qualidade com cachos completos e frutos mais carnudos. Quando há falta de chuva, eles são menores, mais azedos e com pouca polpa”, afirma o agricultor agroecológico e representante de convívios na Associação Slow Food do Brasil, Antônio Augusto Mendes dos Santos.

Não são apenas os butiazais que sofrem com as mudanças bruscas nos termômetros. A meliponicultura também é uma grande vítima da poluição desenfreada. “Com uma seca extensiva, as flores têm dificuldade de fazer rebentação e a polinização das abelhas torna-se uma tarefa árdua, o que significou uma safra menor de mel neste ano”, diz o membro da rede Slow Food.

A Comunidade do Alimento do Slow Food, o Quilombo Mesquita, na Cidade Ocidental, em Goiás, também sente o impacto ambiental na região com a escassez de água. A líder da Associação Renovadora do Quilombo Mesquita (Arenquim), Sandra Braga, fala sobre a nova realidade provocada pelas mudanças climáticas. “Durante minha infância, a água era abundante. Hoje em dia a realidade é outra. Temos buscado alternativas a médio e longo prazo, senão a água vai acabar. Precisamos conservar nossas nascentes, nossos rios e fazer uso consciente desse recurso.” Para a quilombola, o trabalho realizado pelo movimento Slow Food tem impactado positivamente na superação do problema. “O trabalho de valorização do cerrado, o Berço das Águas, pode ajudar na preservação de importantes árvores frutíferas da região e nas águas que ainda nos auxiliam nas plantações.”

 DADOS SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL

1. O aquecimento global é uma realidade e a contribuição do ser humano é significativa para a ocorrência de fenômenos ligados às mudanças climáticas.

2. Esse aquecimento é, em grande parte, irreversível.

3. Grande parte do calor está sendo absorvido pelos oceanos, cujas taxas de acidificação se encontram em um patamar sem precedentes e extremamente perigoso para o futuro da biodiversidade marinha.

4. Temos de agir em escala global imediatamente.

5. Seria necessário zerar nossas emissões de gases de efeito estufa (GEE), ou seja, a grande maioria dos combustíveis fósseis precisaria se manter enterrada no subsolo e as energias renováveis teriam de assumir um papel fundamental e preponderante na matriz energética mundial para ficarmos abaixo de um aumento de 2 °C até 2100.

Fonte: Relatório IPCC divulgado em 2014

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